Os desafios da dislexia no ambiente escolar
O termo "dislexia" foi usado pela primeira vez em 1896 pelo médico britânico Pringle Morgan, porém ela já aparecia na literatura médica com outras definições, como por exemplo, "cegueira verbal".
A dislexia não tem relação com déficits de inteligência, pelo contrário, esses indivíduos costumam ser inteligentes, rápidos em outras atividades e apresentam um desenvolvimento equivalente aos dos seus pares da mesma faixa etária, porém sua dificuldade está na aprendizagem da leitura e escrita.
Em suma, a dislexia é um distúrbio específico da linguagem, caracterizado por dificuldades de reconhecimento de letras, decodificação e soletração de palavras, ou seja, o aluno apresenta dificuldade em decodificar ou compreender palavras, o que compromete a aprendizagem. Atualmente, ela aparece no DSM-5-TR como Transtorno Específico da Aprendizagem com prejuízo na área da linguagem.
Como qualquer outro transtorno do neurodesenvolvimento, quanto antes for diagnosticado, melhor será o futuro desse indivíduo. Os sintomas costumam aparecer no primeiro ano escolar, porém a escola acaba não entendendo essas dificuldades como algo preocupante, uma vez que o período de tolerância adotado para que a criança esteja alfabetizada é até o terceiro ano do ensino fundamental I. E é somente neste momento que estas dificuldades começarão a ser notadas, já que ocorre um aumento das demandas e exigências em relação ao desempenho escolar. A identificação precoce da dislexia é um grande desafio, neste sentido, uma vez que para que seja realizado o diagnóstico é necessário que a criança tenha passado por várias tentativas de ensino de leitura e escrita.
Uma vez identificada a dislexia, existem muitas maneiras de auxiliar o indivíduo de acordo com os sintomas apresentados. Cada disléxico pode apresentar dificuldades variadas, sendo necessário um olhar individualizado e intervenções personalizadas. Alguns pontos fundamentais para serem trabalhados são: a linguagem, raciocínio, concentração, percepção, esquema corporal, orientação espacial, temporal e a lateralidade.
No processo de inclusão do aluno no ambiente escolar o professor tem um papel fundamental, sendo um facilitador e orientador, preparando um ambiente estimulante, incluindo atividades que trabalhem a consciência fonológica, buscando recursos variados, realizando um trabalho multissensorial, inclusive não permitindo que a criança seja rotulada devido as suas dificuldades. O olhar do professor é importante para definir as adaptações necessárias e razoáveis para que essa criança não fique em desvantagem em relação aos seus pares, como por exemplo: tempo maior para realização das provas, provas adaptadas utilizando fontes indicadas para facilitar a leitura dos disléxicos, permitir provas orais quando necessárias, disponibilização de uma pessoa ledora quando necessário, disponibilização de tecnologias assistivas indicadas para disléxicos (exemplo: régua de leitura), entre outros.
Em relação às famílias, é importante acreditar que a criança pode aprender, mesmo que leve um tempo maior. O ambiente familiar pode interferir de forma positiva ou negativa no desenvolvimento da criança, portanto o apoio da família é fundamental para a superação das dificuldades. Buscar ajuda profissional, com acompanhamento multidisciplinar, fará toda diferença para o sucesso no tratamento.
Para concluir, precisamos evitar a evasão escolar desses alunos, que na maioria das vezes é o que acontece, pois o ambiente escolar torna-se um lugar muito difícil de permanência para eles, uma vez que podem não atingir os resultados esperados. A tendência é que esses alunos sofram de baixa autoestima e acabem sendo estigmatizados e excluídos, infelizmente. Aqueles que conseguem superar e concluir o ensino, em sua maioria, têm um histórico de uma rede de apoio muito boa, tanto familiar, quanto de saúde. O apoio profissional de uma equipe multidisciplinar faz toda diferença na superação das dificuldades.
* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica, Pedagoga com Habilitação em Administração Escolar, Especialista em Intervenção ABA no Autismo e Deficiência Intelectual, Professora/Formadora em Educação Inclusiva, além de Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar, clínico, empresarial. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com. Instagram: @neuropsicocristianesaraguci. Facebook: @neuropsicocristianesaraguci. Site: www.cristianesaraguci.com.br
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