Reconheça suas emoções e ajude seu filho a desenvolver a empatia
Dra. Regiane Glashan*
Muito tem se falado sobre a empatia - de como ela é importante para a saúde mental da família e em especial da criança. Mas o que significa empatia?
Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo. Antes de falar sobre empatia e ser empático, precisamos falar sobre a percepção das emoções.
Para perceber o que a criança está sentindo, primeiro os pais precisam entender e perceber a deles. Opa! A coisa tá ficando complicada! Se eu não percebo as minhas emoções como vou entender a do outro? Ser emocionalmente consciente significa a capacidade de reconhecer e identificar as próprias emoções e os sentimentos e perceber as emoções do outro. Estudos elaborados por um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos (Gottman e colaboradores - terapeutas) verificou que homens e mulheres são capazes de sentir uma emoção de maneira igual, independente do sexo - o problema está em expressar os sentimentos e aí a cultura e a educação pode ter uma interferência importante. Porém, sentir é algo inerente, independente do sexo.
Alguns pais têm medo de perder o controle emocional e por isso ficam em estado de "sobre aviso" - não sabem como lidar com as emoções negativas (raiva, tristeza, medo, nojo, frustração, etc.). Esses tipos de pais evitam tais sentimentos com medo de que seus filhos se afastem deles ou que eles não sejam bons modelos a serem seguidos. E assim, se tornam pais defendidos emocionalmente (ser "sensível" é coisa para fracos). Viram superpais! Pais que perdem a oportunidade de serem treinadores emocionais de seus filhos, darem o exemplo de regulação emocional e acabam por se distanciarem emocionalmente de seus filhos.
Muitos desses pais se transformam em mártires, acham que devem apoiar os filhos em tudo, que negar algo estará prejudicando o desenvolvimento afetivo da criança. Esses mesmos pais, quando descompensados, podem se tornar críticos em demasia, estourados e praticar castigos desmedidos.
O que esses pais contidos poderiam fazer para demonstrar emoção aos filhos?
A primeira coisa é reconhecer que não existem emoções negativas, ou seja, raiva, nojo, tristeza e etc.; são sentimentos como outros e que é aceitável ficar com raiva quando as crianças fazem algo errado. O importante é manter a conexão, a firmeza e a gentileza na hora de educar.
O que não é admissível é perder a cabeça e ofender, bater, ou realizar qualquer outra forma de violência com a criança. Quando os pais percebem que vão sair do prumo, é melhor tirar o time de campo por um tempo, respirar fundo, tomar um copo de água e só depois que recobrarem a calma, retomarem o diálogo com o filho.
Diga objetivamente o que você quer, ouça o que ele tem a dizer e negociem. Sempre levando em conta a idade de seu filho!
Detalhe importante a ser frisado: "todos os pais erram"! Se isso acontecer, não tenha vergonha de pedir desculpas e reabrir o diálogo e o afeto. Os pais que se permitem sentir todos os tipos de emoção trabalham em mão dupla com os filhos e o diálogo e a reparação de um erro fluem mais facilmente. Isso se chama INTIMIDADE!
Ok, sou capaz de identificar minhas emoções enquanto pai ou mãe, e agora?
Agora, vamos desenvolver a sensibilidade de perceber as emoções dos filhos. É muito mais fácil perceber a emoção do outro quando estamos em sintonia emocional. O problema é que em algumas vezes a criança não fala abertamente/diretamente sobre emoções, pois seu repertório emocional ainda é escasso.
A criança pode falar sobre emoções por meio do comportamento ou de atitudes. Pode ser que seu filho esteja com problemas de comportamento na escola, que sua filha ande mal-humorada, que seu filho adolescente se recuse a fazer as refeições em família - todos esses comportamentos "inadequados" têm por trás uma necessidade básica não atendida. Imagine que uma criancinha de cerca de 3 anos seria incapaz de lhe dizer: 'Desculpe mamãe, tenho andado irritada e nervosa, pois estou tendo dificuldade em me adaptar na escolinha. Sinto muita falta de você e das minhas coisas aqui de casa"!
O que estou querendo dizer é que precisamos entrar no mundo infanto-juvenil para sermos detetives emocionais de nossos filhos. Por exemplo, as brincadeiras lúdicas ajudam a fantasiar e a entender o que está acontecendo (medo, raiva, desproteção, etc.). Não tenha medo de brincar, usar bonecos, fantoches e bichinhos. Você pode se surpreender se durante a brincadeira o ursinho de pelúcia falar para a mamãe ursa que ele está com muita raiva dela, pois ele está se sentindo abandonado na escolinha. Ponto para você! Você descobriu o que está acontecendo com sua filha e agora você pode falar, de maneira lúdica, sobre o que está acontecendo e como o ursinho será capaz de superar o afastamento da mamãe ursa. Isso é empatia!
* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br. Instagram: @terapeutadebebes_familia
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