Fim da pandemia vai demorar, diz infectologista da Beneficência Portuguesa
Por Anaïs Fernandes
Valor - São Paulo
A aprovação do uso emergencial de duas vacinas contra a covid-19 no Brasil permite enxergar um "fim" para a pandemia - ou, ao menos, um maior controle do problema -, mas "as coisas ainda vão demorar", afirma João Prats, infectologista da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo. "Quando eu digo que enxergo um fim para o problema, é verdade, mas o final também está bem longe. Muitas barreiras precisam ser acertadas", diz o médico.
Uma delas é o ritmo de produção das doses. "As vacinas foram aprovadas, podem ser administradas e já existe fabricação em território nacional, é uma barreira vencida. Mas será que o número de doses produzidas será suficiente? A impressão que dá é que vai ser pouco ou que, talvez, demore muito", diz Prats, em referência sobretudo à produção da Coronavac pelo Instituto Butantan.
Até abril o instituto disse que fornecerá 46 milhões de doses para o país. Pensando que a imunização é feita em duas etapas, poderiam ser cerca de 23 milhões de brasileiros vacinados, o que, segundo Prats, até é um número bom. Ele lembra, no entanto, que existe um intervalo entre a primeira e a segunda dose. "Leva um mês e meio, dois meses para falar que a pessoa está imunizada, esse tempo temos que considerar na nossa equação", afirma. "O que vai acontecer primeiro é que os casos graves vão começar a diminuir, os hospitais vão encher menos, isso é muito importante".
Alguns fatores podem acelerar esse processo, como o aumento da oferta de vacinas, seja pelo incremento daquelas produzidas nacionalmente, seja pela importação de outros imunizantes. Mas, além da fabricação, outros fatores importantes determinam uma maior ou menor velocidade do processo, como as etapas de distribuição, armazenagem e a aplicação em si do imunizante. "Vai depender de uma integração muito grande entre os Estados e municípios e o governo federal, o que é difícil. Na hora de vacinar as pessoas, será preciso se preocupar com o distanciamento, para que elas não se contaminem nesse momento, então terá de haver mudanças na estrutura de atendimento, ampliar o horário das unidades básicas de saúde, criar postos excepcionais", exemplifica ele.
Na avaliação de Prats, a situação pode começar a melhorar ao longo do segundo semestre deste ano. "Vou ter que pensar em fabricação, distribuição, armazenamento, oferecimento à população. Isso vai ter que ser escalável, aí vou começar a vacinar a população em grande quantidade. Talvez no segundo semestre para o fim do ano, as coisas melhorem, se a gente fizer tudo certo", afirma, acrescentando que o ritmo de contaminação "natural" das pessoas também vai alterando essa previsão.
O "impacto direto" na vida das pessoas, em termos de volta a alguma normalidade, como reabertura de comércios, no entanto, "vai demorar mais que o tempo para que os casos diminuam", adianta o médico. "Isso, com certeza, só para o fim do ano, ano que vem. Os casos têm que diminuir muito para as pessoas começarem a ficar mais tranquilas. Isso leva um tempo. Mesmo que a vacina funcione mais rápido, não vai voltar tudo, será uma jornada".
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