Meu filho ainda não está alfabetizado, e agora?
Cristiane Fernandes Esteves Saraguci*
Crianças em condições ideais de aprendizagem já encontraram dificuldades para aprender a ler e escrever, imagine crianças sem as condições ideais. Infelizmente as diferenças sociais no Brasil são grandes, nem todas as crianças têm acesso à tecnologia e/ou internet, o que exigiu muitas reflexões por parte dos educadores e gestores para encontrarem uma alternativa que diminuísse essas desvantagens das crianças em situação de vulnerabilidade social, sem contar as estratégias para prevenção da evasão escolar.
Dentro desse contexto, as crianças mais velhas e com acesso à tecnologia se adaptaram melhor ao modelo remoto, porém, como não podia ser diferente, as crianças menores foram as mais prejudicadas. São mais de 6 milhões de alunos entre 6 e 8 anos que já deveriam estar alfabetizados, mas não estão! As famílias se preocupam e levantam o questionamento: e agora, como essa defasagem será vencida?
Chegou o momento em que as escolas estão tentando uma retomada às aulas presenciais gradativamente e com várias recomendações, pois o vírus continua circulando e muitos ainda não foram imunizados. Aos poucos, professores e gestores, conseguirão ter uma visão melhor da realidade e, com base neste diagnóstico, poderão traçar as estratégias para superação das dificuldades e lacunas no processo de alfabetização.
A preocupação com o atraso na alfabetização é legítima, porque para que a criança possa galgar degraus mais elevados de conhecimento ela depende da leitura e da escrita. Porém a notícia boa é que a neurociência já desvendou muito sobre o que acontece na mente das crianças ao serem alfabetizadas: ler e escrever modifica significativamente seu cérebro, precipitando sinapses em série. Deste ponto em diante, as crianças dão um salto no mundo do saber. Quando menos esperamos elas estão soletrando pan-de-mia e muitos outros vocábulos com facilidade.
A minha orientação para as famílias é que continuem investindo na parceria com a escola. Em sala de aula o professor tem ferramentas adequadas para ajudar as crianças a superarem essas lacunas, por outro lado é importante que em casa ela receba uma atenção para a realização das tarefas, que ela tenha uma rotina bem definida, com horário para realizar as lições de casa e um ambiente favorável ao aprendizado, de preferência com uma mesa e sem muitos distratores como televisão, celular ou sons ligados. A leitura também é fundamental, o contato da criança com livros, revistinhas e outros portadores textuais contribui muito para o processo de alfabetização, mesmo que ela ainda não consiga ler. Os pais podem ler para a criança e ir acompanhando a leitura com o dedo para que eles percebam a direção da leitura e reconheçam os fonemas e grafemas.
Existem alguns recursos que também podem ajudar no processo de alfabetização, como o Graphogame, lançado em novembro de 2020 pelo Ministério da Educação (MEC). É uma ferramenta utilizada com sucesso em outros países. O Graphogame é um jogo educacional com um ambiente virtual para a aprendizagem de habilidades fonológicas voltado para crianças de 4 a 9 anos. Evidências científicas mostram que o aplicativo é efetivo, principalmente, quando utilizado pela criança sob supervisão e com engajamento de um adulto.
Hoje em dia temos muitos recursos a nossa disposição, mas a parceria entre escola e família continua sendo indispensável, pois ambas têm o mesmo objetivo, que a criança se desenvolva e consiga avançar nos seus aprendizados. A palavra que melhor define o comportamento que todos precisam adotar neste momento é resiliência. É preciso ir se adaptando às exigências do momento, mantendo o pensamento positivo e tendo a certeza de que tudo isso irá passar e em breve nossas crianças estarão de volta a rotina e irão superar todos esses obstáculos.
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