Como equilibrar afeto, proteção e de quebra evitar a superproteção aos nossos filhos?
Dra. Regiane Glashan*
É comum encontrar pais sobrecarregados por sentimentos de culpa e muitas vezes sentem-se bloqueados ou paralisados por eles. Carregam isso como um fardo nas costas e no íntimo dizem a si próprios: "eu trabalho demais, não tenho tempo para as crianças"; "procuro compensar minha ausência, oferecendo estudo de qualidade e tecnologias que ocupem o tempo das crianças ou estudo complementar", entre outras respostas.
Provavelmente são pais que foram construindo a culpabilidade ao longo de sua própria infância. Talvez, pelas exigências de sua própria família de origem. Não tenho dúvidas que os pais estão constantemente tentando acertar e creio que na maior parte das vezes o fazem. Contudo, o êxito, às vezes, se perde no meio do caminho, principalmente quando o objetivo é suprir as faltas amorosas e a compensação pela superproteção.
Proteger os filhos, especialmente as crianças, é uma das funções dos pais, porém quando a proteção se torna exacerbada, o desenvolvimento emocional e muitas vezes o cognitivo, podem ser comprometidos (pelo menos em algum grau), apesar dos pais não estarem cientes de sua ação. A superproteção não previne e nem conserta, a final de contas, a organização exagerada, o cuidado exagerado, a meticulosidade, o controle intensificado sobre a criança só está servindo de pano de fundo para ocultar algo ou uma situação específica que não vai bem e que nem sempre os pais são cientes disso.
Nesse momento os sentimentos ou afetos negativos estão sendo mais poderosos que o amor libertador. Os pais superprotetores não permitem que a criança brinque no chão, explore o ambiente, engatinhe, suje sua roupa. Os pais ressentem pelo dolo, pela possibilidade de contaminação/infecção e o adoecimento físico. E o adoecimento afetivoemocional pela falta de expansão criativa? Essas restrições acabam por prejudicar o desenvolvimento motor, cognitivo, emocional, imunológico e outros não menos importantes - a criança padece na gaiola, refém de pais que hora são os ditadores, hora são os reféns da criança que se torna verdadeiro reizinho do lar e todos devem subserviência a ele (a).
Não excluo que a consideração para com nossas crianças esteja associada à reparação que fazemos de nossa própria história de vida e com isso o desejo de dar aos nossos filhos o que a vida nos privou (de alguma maneira) e a preocupação em suprir o que não tivemos. Quando pensamos assim, perdemos muito de nossa criatividade e espontaneidade e deixamos que sentimentos ambivalentes, normais ao desenvolvimento e amadurecimento humano, sejam excluídos de nossas vidas e nos preocupamos em cada vez mais superar os saldos negativos que ficaram pendentes em nossa trajetória ou nossa história familiar, reparando o fato com a superproteção. Quando os pais fazem tudo para seu filho, o fazem achando que é o melhor deles.
Por outro lado, acabam facilitando demais a vida dos pequenos e os privando de outras coisas que poderiam estar favorecendo sua maturidade. Ao agirem assim, os pais acabam engessando seus filhos em várias áreas potenciais de desenvolvimento humano e ao mesmo tempo passando a mensagem: "somos seus súditos e você é o nosso reizinho".
Ninguém está afirmando que a fórmula do sucesso é largar a criança a própria sorte (se vire como puder). O que estamos querendo dizer é que uma família/pais continentes funcionam melhor que pais superprotetores. Pais superprotetores não permitem que seu filho rume a maturidade, pois maturidade no ser humano, implica em crescimento e sociabilização. Significa assumir responsabilidades na comunidade em que se vive. Pais continentes ensinam seus filhos a desfrutarem de uma vida sincera e verdadeira - onde o seu "eu" mais inteiro é visto, ouvido e apreciado em toda sua plenitude, e pode ser expresso com responsabilidade e respeito ao próximo.
* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br. Instagram: @terapeutadebebes_familia
Veja mais notícias sobre Dra. Regiane Glashan.
Comentários: