Terapia de casal não é só para quando as coisas vão mal
Tenho certeza que a maioria das pessoas associam "terapia" a algum evento que cause desconforto ou problema ao indivíduo. Só pessoas com algum grau de sofrimento emocional é que deveriam procurar um terapeuta. Epa!!
Em se tratando de casais, a terapia faria sentido se os parceiros estivessem com uma questão específica para resolver (traição, problema com filhos, morte de um ente querido, mudanças no ciclo familiar ou outros). Entretanto, como terapeuta familiar e de casais, posso dizer que grande parte das angustias, desamparo e conflitos relacionais poderiam ter sido evitados com a intervenção terapêutica preventiva.
É interessante constatarmos que nunca pensamos tanto em saúde como na atualidade: alimentação saudável, redução de estresse, momentos de lazer, atividade física, medicina preventiva, etc. Contudo, ainda negligenciamos a saúde mental - e nesse caso a saúde relacional.
Por que será que não aplicamos o mesmo conceito e preocupação de cuidados da saúde física e espiritual à saúde mental?
Tentamos ao máximo empurrar com a barriga os conflitos relacionais, achando que por mágica as coisas se resolvem ou se acomodam. Não raro, observamos muitos casais se aconselhando com melhores amigos ou com outras pessoas cheias de "boas intenções".
Acho que o principal motivo para evitar a ajuda especializada ainda é o estigma. Estigma de que quem procura a terapia ou é louco ou não deu conta de gerir a própria vida. Na realidade, procurar ajuda especializada pode ser vista como um sinal de (pró)atividade e valorização da saúde como um todo. A terapia de casais pode ser empregada de maneira preventiva, mostrando o quanto o casal se importa e valoriza a relação.
Procurar um terapeuta de casal é encontrar maneiras funcionais de navegar em ondas raivosas e entendendo que o que mantem o casal a salvo é o barco que eles navegam e não a "disposição" das ondas marítimas. Não nascemos com uma carta de navegação relacional e por isso temos que aprender a navegar pelos sete mares com bom senso e com entendimento de que algumas vezes nosso barquinho relacional pode ficar à deriva.
Um casal que goza de satisfação, frente a relação, entende que pode se apoiar mutuamente e que o aprendizado de novas habilidades ajuda a incrementar a saúde matrimonial. A recompensa em se investir na relação precocemente, ou quando a luz amarela ascende, é uma grande vantagem ao vermelho. Quando a luz vermelha ascende, já existe muita mágoa, rancor e animosidade - o casal está muito inflamado, dolorido e machucado.
Quais situações estariam relacionadas a procura preventiva de um terapeuta de casais?
Posso citar algumas:
- tomar a decisão de ter ou não filhos
- uma vida sexual morna
- adaptação a chegada de um bebê
- aceitação ou mudança de emprego
- surgimento de uma doença impactante para o casal ou para a família
- adaptação ao ciclo familiar: adolescência, partida de um filho, aposentadoria
- apoio mutuo frente a uma perda significativa (financeira, ente querido, mudança de cidade ou país, etc.)
Gerenciar dilemas sem deixar o solo infértil é uma demanda importante para qualquer casal, até mesmo para aqueles casais que vivem de maneira harmoniosa e nutrida por bons afetos. Dificilmente, em nosso cotidiano, não temos momentos de fragilidade e de dúvidas. Se as coisas não são sempre fáceis, por que não procurar ajuda mental preventiva, assim como buscamos a prevenção para nossa saúde física?
A terapia de casais proporciona um lugar seguro para navegar com os conflitos - é uma oportunidade de um aprender com o outro de maneira sustentável, e, ainda fornece uma oportunidade formidável de aprender sobre si e a desenvolver habilidades para se obter mais satisfação com a parceria amorosa.
* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br. Instagram: @terapeutadebebes_familia
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