Quinta, 21 Nov 2024

Leve em conta as emoções de seu filho (parte 2)

Dra. Regiane Glashan*

Para quem não teve a oportunidade de ler o nosso artigo da semana passada, estávamos comentando sobre a importância de sermos pais treinadores emocionais de nossos filhos. Que quanto mais exploramos em família o mundo dos sentimentos e afetos, mais nossos filhos aprendem a conhecer sobre si e sobre o outro. Nesse aspecto, estamos falando de empatia, resiliência, capacidade de resolver problemas, autonomia, compaixão e por quê não de visão de mundo.

Finalizamos o texto comentando que os pais que treinam seus filhos emocionalmente, propiciam aos seus filhos uma maior chance de obterem sucesso na vida. Nesse contexto, sucesso pode ser entendido como serem mais felizes, ganharem mais dinheiro, encontrarem boas parcerias e se relacionarem com mais assertividade com as outras pessoas. Será que como pais podemos querer coisa melhor para nossos filhos? Eu pelo menos, não!

Treinar as crianças para lidar com as emoções não é a cura ou o remédio para todos os males e muito menos para debelar crises conjugais. Que a família não vai mais brigar, que magicamente não haverá mais agressões de nenhuma linhagem e que num passe de mágica as emoções tidas como "negativas" vão desaparecer. Isso seria propaganda enganosa e penso até em crime passível de punição pela lei!

Precisamos lembrar que estamos falando de pessoas e como pessoas temos opiniões diferentes. Podemos divergir de assuntos, termos ideias contraditórias e conflitos particulares em cada família. O que estou querendo demonstrar é que o treinamento emocional pode nos aproximar mais enquanto pessoas, nos ajudar a nos colocarmos no lugar do outro e percebermos que não estamos nos afastando das crianças e sim nos colocando ao lado delas.

Conclusão, estar mais próximo dos filhos é criar mecanismos que favorecem a intimidade amorosa, o respeito familiar e a reciprocidade relacional.

Praticar os conceitos do treinamento emocional em família não significa paz e tranquilidade eterna. Muitas vezes, para lidar com situações muito difíceis dentro do seio familiar, precisamos lançar mão de um profissional especializado. Um terapeuta que nos ajude a dirigir o barco em águas cheias de tormentas.

Treinar os filhos, emocionalmente falando, não é antagônico com a disciplina das crianças. Pelo contrário, pais próximos de seus filhos têm maior chance de educar e disciplinar as crianças sem violência física e psicológica. Os pais próximos de seus filhos se sentem confiantes para serem firmes quando é preciso, advertir quando a criança está fazendo algo inadequado e impor regras e limites claros sempre que necessário. Os pais emocionalmente próximos de seus filhos não se deixam abater pela culpa ou pelo ressentimento.

O elo emocional familiar é forte e os membros da família se sentem respeitados, ouvidos e participantes ativos da relação. Motivados para seguirem em frente rumo a novos desafios.

Claro que como tudo na vida exige determinação, paciência e repetição. Se você percebe que seu filho tem boa aptidão para tocar um instrumento musical, você se empenha em comprar o instrumento, em leva-lo para as aulas de música, estar presente nas audições e etc. Se usarmos esse exemplo como base, toda vez que o filho tiver que lidar com tensões não podemos dar as costas e dizer "se vira!". Temos que ouvir as demandas da criança e oferecer suporte.

Conclusão final, não existem melhores pessoas para treinarem emocionalmente as crianças do que os pais. Afinal, são eles quem mais conhecem seus filhos e norteiam as regras. Conflitivas vão acontecer e pode ser desde uma briga entre os irmãos por um brinquedo, o colega que zomba dos óculos de grau de seu filho na escola, a adolescente que vai a sua primeira baladinha e não sabe que roupa usar, o bebê que iniciou o desfralde e está urinando fora do peniquinho, entre outras.

Assim, prepare seu uniforme de treinador e assuma o papel de treinador emocional de seus filhos!

* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br

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