Comer está sendo um problema nesse isolamento social?
Cássia Lozzi Navas*
Para quem está mais tempo em casa nesse isolamento social e tem que lidar com tarefas do trabalho, da casa, dos filhos ou mesmo com as notícias do dia a dia, pode ter percebido que algumas emoções aflorem mais, e elas somadas ao fato de termos os alimentos disponíveis o dia inteiro em casa podem ocasionar em momentos mais delicados uma relação com a comida.
Nós comemos influenciados pelas emoções, não comemos apenas porque sentimos fome. E seja por emoções positivas ou negativas, a comida faz parte de festividades ou de momentos mais estressantes. Isso difere do comer emocional, onde emoções, na maioria negativas, nos levam a comer de maneira rápida, sem atenção, sem planejamento e com uma sensação de descontrole. Ou seja, o comer emocional é quando usamos a comida para lidar com emoções que não sabemos lidar ou identificar.
Já aconteceu isso com você?
E será que funciona?
Podemos dizer que momentaneamente nosso cérebro entende isso como uma recompensa positiva (o que faz recorrermos à comida nessas situações com mais frequência), mas o que acontece depois é uma elevação da culpa por ter comido e uma frustação recorrente, porque a emoção anterior retorna, mesmo depois da comida.
Por isso, a frase "emoção assumida, não vira comida" faz sentido.
Quando conseguimos identificar nossas emoções, percebemos que a comida tem pouca efetividade (ou nenhuma) para a solução do problema em questão. Então, em primeiro lugar, para lidar com o comer emocional é preciso entender a emoção do momento - não é tarefa fácil. Mas, a partir disso, pensar em maneiras diferentes para além do comer é importante - em atividades que seriam mais efetivas para solucionar o problema em questão.
Além disso, outras questões valem ser mencionadas:
- Não fazer dietas restritivas nesse período (nem depois), pois reduzir ou cortar alimentos da sua alimentação pode piorar o comer emocional e intensificar o comer exagerado.
- Estabelecer horários para comer que sintonizem com a sua fome, porque comer quando a fome é muito grande pode resultar em uma ingestão rápida e exagerada, onde as quantidades são maiores que o normal.
- Se movimentar, fazer algum exercício físico, pode ser benéfico para o manejo do estresse, e isso pode ajudar na diminuição do comer emocional.
Faz sentido para você?
Pense como tem sido sua relação com a comida nesses tempos. Quem sabe este não é um momento interessante para criar novos hábitos e mudar comportamentos indesejados?
Sou Cássia, nutricionista clínica com foco em comportamento alimentar e trabalho para auxiliar as pessoas para que tenham um olhar mais gentil para a alimentação e para o próprio corpo.
* A autora é Nutricionista (CRN3-47509) graduada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e aprimorada em Transtornos Alimentares pelo AMBULIM IPq-USP. Realiza atendimentos clínicos com abordagem comportamental em consultório particular. Atua em prevenção e educação alimentar, com experiência em transtornos alimentares, obesidade, comer transtornado, e com pessoas que, de maneira geral, querem ter um olhar mais gentil com a alimentação e com o corpo. E-mail: oinutricassia@gmail.com
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