Terça, 03 Dez 2024

Por que falar sobre autismo?

Cristiane Fernandes Esteves Saraguci*

Para responder a pergunta feita no título deste artigo precisamos parar, prestar atenção e refletir sobre a fala de muitas pessoas em nossa sociedade. Me responda com sinceridade, você acredita que somos inclusivos? A nossa sociedade é inclusiva? Vamos refletir sobre isso?

No meu dia-a-dia, por trabalhar na área clínica e também educacional, tenho oportunidade de ouvir relatos de pais de crianças com TEA, de diretores, coordenadores, professores e pais de crianças neurotípicas.

Sabe o que eu ouço com mais frequência do que vocês imaginam? Frases como: "Essa criança não deveria estar aqui junto com as outras crianças", "Ah, eu não convidei para a festa porque sabia que ele não iria", "Amarra essa criança na cadeira", "Que criança mal educada", "Essa criança não deveria estar na escola regular", "Nossa, que absurdo eles terem assento preferencial", "O que esses pais fizeram para ter um filho assim", "Eu não quero meu filho convivendo com essa criança, ela é agressiva", "Quero mudar meu filho de sala porquê essa criança está incomodando ele", "Meu filho não é obrigado a passar por isso e conviver com essa criança", e muitas outras que daria um artigo inteiro.

Chocante não acha? É bem provável que você já tenha ouvido frases desse tipo, porém é algo que foi tão normalizado em nossa sociedade que nem percebemos o preconceito que cada uma delas carrega, ou até percebemos, mas não temos reação.

Essa é a resposta para a pergunta provocativa do título deste artigo, precisamos falar sobre autismo para gerar conscientização, despertar mais empatia, melhorar a inclusão, disseminar informações verdadeiras, melhorar a qualidade de vida dos portadores do TEA, reduzir o preconceito, tornar nossa sociedade mais inclusiva, tornar a vida dessas famílias um pouco mais fácil, e muitas outras coisas. Sim, ainda precisamos falar muito sobre o autismo, pois nossa jornada é longa, já começamos a colher alguns frutos nesta curta caminhada, porém ainda não podemos dizer que somos inclusivos ou que vivemos em uma sociedade inclusiva.

A maior barreira que encontramos na inclusão é "comportamental", porque se fossem adaptações de prédio, de ambientes físicos, seria muito mais fácil. Mas mudar o comportamento, a atitude, o olhar das pessoas, é um trabalho muito mais complexo e árduo.

Esse é o mês de conscientização do autismo e eu convido você a fazer essa reflexão sobre o assunto. Como você se sentiria se vivesse isolado? É isso que muitos desejam para os portadores de TEA. Imagine se você ficasse trancado dentro de uma casa sem poder sair, sem ter o direito de frequentar um shopping, um parque, como seria para você? Agora se coloque no lugar das famílias, e se você fosse pai ou mãe de uma criança autista e as pessoas ficassem te olhando na rua ou em outros lugares quando seu filho entrasse em crise, com olhar de julgamento? Imagine se você tentasse pegar um ônibus, porque não tem condições financeiras para se locomover de outra forma, e seu filho tivesse uma crise dentro do ônibus? E se você tentasse conseguir um tratamento digno para o seu filho, mas não encontrasse?

Seria difícil não é mesmo? Mas são exatamente situações como essas que as famílias passam. Por isso precisamos falar sobre autismo, porque estamos todos em uma corrida maluca tentando sobreviver e nem sempre prestamos atenção no sofrimento do outro.

Espero que este artigo chegue em muitas pessoas e gere uma reflexão sobre nossas atitudes e comportamentos em relação ao outro. Que essas frases que eu citei aqui não saiam mais de nossa boca e que não sejamos mais tolerantes com o preconceito. Estou aqui para lutar por mais informação e menos preconceito, porque lugar de autista é em todo lugar!

* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica e Institucional, Pedagoga especialista em Administração Escolar, Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar e clínico, como também no mundo business como Coach, palestrante e desenvolvendo pessoas. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com; Instagram: @neuropsicocristianesaraguci; Facebook: @conexãodoaprender e Blog: https://conexaodoaprender.home.blog/

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