Seletividade ou dificuldade alimentar?
Cristiane Fernandes Esteves Saraguci*
Muitas famílias chegam aos consultórios médicos com queixas sobre a dificuldade que o filho tem para comer. É comum que membros da própria família ou amigos próximos digam que é assim mesmo, que é uma fase e irá passar. Isso quando não aconselham a família a deixar a criança com fome para que desperte o desejo de comer.
As pesquisam mostram que cerca de 30% de crianças com desenvolvimento normal apresentam algum nível de dificuldade com alimentação. Dessas crianças, metade delas irão superar essas dificuldades sem uma ajuda especializada.
Em minha época de professora de educação infantil era rotineiro a estimulação da alimentação das crianças. Utilizarmos recursos educativos para ensinar e incentivar as crianças a comerem de maneira saudável. Porém algumas crianças apresentavam resistência. O problema maior é quando percebemos uma seletividade extrema ou quando a criança escolhe alimentos por cor ou textura, o que é um alerta para uma possível Disfunção Sensorial.
Há um grupo de crianças que realmente apresenta uma "dificuldade alimentar", ou seja, não é apenas exigências em suas escolhas. Suas escolhas alimentares podem ser consequência de uma falta de habilidade para comer ou interpretar os estímulos sensoriais dos alimentos. Nestes casos é muito importante procurar ajuda especializada. Entenda abaixo as diferenças.
SELETIVIDADE ALIMENTAR
* Diminuição da variedade ou quantidade de alimentos. Tipicamente consome 30 ou mais alimentos;
* Aceita pelo menos um alimento por categoria, seja pelo tipo de textura, ou pelo valor nutricional;
* Tolera novos alimentos no prato;
* Geralmente é capaz de tocar ou provar alimentos, embora com alguma resistência;
* Frequentemente seleciona alguns alimentos para comer por determinado tempo, que geralmente podem variar passado algumas semanas ou meses;
* Participa da refeição em família; normalmente come ao mesmo tempo e no mesmo local que os membros da família;
* Requer mais de 20 a 25 apresentações para aceitar novos alimentos.
DIFICULDADE ALIMENTAR (SELETIVIDADE ALIMENTAR EXTREMA)
* Aceitação restrita ou com pouca variedade de alimentos. Geralmente com menos de 20 alimentos;
* Recusa categorias inteiras de alimentos seja pelo tipo de textura, sabor, aparência ou temperatura (não aceita alimentos em pedaços ou purês, ou alimentos salgados ou alimento com temperatura mais fria ou quente) ou pelo valor nutricional (não aceita nenhuma proteína, ou nenhuma fruta);
* Apresenta comportamento de fuga, luta ou medo quando os alimentos são apresentados;
* Quase sempre come alimentos diferentes da sua família;
* Muitas vezes se alimenta em um ambiente diferente dos outros membros da família;
* Não aceita formas diferentes de apresentação dos alimentos que consome ou mesmo utensílios que utiliza;
* Requer mais de 25 apresentações para aceitar novos alimentos.
Independente de qual seja o caso, é recomendável uma orientação com profissional especializado em alimentação infantil. Nos casos de Dificuldade Alimentar (Seletividade Extrema) pode haver necessidade de mais de um profissional para diagnosticar e tratar a criança, além de uma investigação caso essa seletividade esteja acompanhada de outros sintomas, como atraso no desenvolvimento. Os especialistas mais indicados nestes casos são psicólogos, nutricionistas e terapeutas ocupacionais.
* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica e Institucional, Pedagoga especialista em Administração Escolar, Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar e clínico, como também no mundo business como Coach, palestrante e desenvolvendo pessoas. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com; Instagram: @neuropsicocristianesaraguci; Facebook: @conexãodoaprender e Blog: https://conexaodoaprender.home.blog/
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