Como anda a inclusão de crianças com autismo?

Nesta semana, dia 2 de abril de 2025, comemoramos o Dia Mundial de Conscientização do Autismo.

E como anda a inclusão de crianças com autismo na sociedade?

Em 2012 tivemos um ganho enorme para esse grupo, pois pela primeira vez o autismo foi reconhecido como deficiência, conforme a Lei Berenice Piana (Lei nº 12.764/2012), que também assegura direitos específicos para as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Entre esses direitos está o direito a matrícula escolar, sendo proibida a recusa por parte de escolas públicas e particulares.

De 2022 a 2023, no Brasil, tivemos um aumento de 50% nas matrículas de crianças com Transtorno do Espectro Autista em salas de aula comuns. Saltou de 405.056 para 607.144, segundo dados do Censo da Educação Básica. O problema é que não basta garantir a matrícula, é preciso que as etapas subsequentes funcionem. E neste ponto, o Brasil ainda está "engatinhando"!

A educação inclusiva é importante tanto do ponto de vista social (compreensão das diferenças, cidadania, melhora na capacidade de comunicação) quanto do cognitivo (a escola deve adaptar sua metodologia para que todos os alunos aprendam, respeitando a singularidade de cada estudante). Após a matrícula é preciso garantir o acesso, a permanência, a participação e a aprendizagem. Incluir é muito mais do que colocar todo mundo na mesma sala.

Atualmente, na prática, convivemos com alguns obstáculos que precisamos superar. Por exemplo:

* Formação dos docentes, equipe de apoio e funcionários: muitos profissionais buscam formação por conta própria, sem apoio da escola ou do governo;

* Falta de adaptação de atividades e curricular: boa parte dos profissionais ainda não sabe como adaptar, existe uma resistência em adaptar o currículo e falta de organização para não sobrecarregar o professor regente;

* Despreparo para lidar com as crises: quando o aluno se desregula, dificilmente você encontra profissionais capacitados para lidar com o problema, ou seja, falta de formação dos docentes e equipe novamente;

* Bullying: crianças com autismo são mais propensas a sofrer bullying, pois apresentam prejuízos no campo da socialização;

* Cobrança de taxas extras na mensalidade: (prática ilegal);

* Descumprimento do direito a um acompanhante: contratado pelo colégio, no caso de escolas particulares. Na escola pública (prefeitura) existe a contratação, porém nem sempre é fácil consegui-los. Nas escolas do Estado a situação é ainda mais complicada;

* Evasão escolar e ausência de recursos: as escolas ainda não estão preparadas para lidar com alunos que apresentam atrasos no desenvolvimento e que não acompanham o currículo, existe a equipe de AEE (Atendimento Educacional Especializado), porém ainda não é tão eficaz, devido à alta demanda, as crianças recebem poucos atendimentos, geralmente um atendimento semanal.

Em novembro de 2024 foi homologado o Parecer nº 50 do CNE, que traz diretrizes para o atendimento de indivíduos autistas nas escolas brasileiras. O que o documento trouxe de novidade foi o PEI (Plano de Ensino Individualizado), um ganho para a comunidade autista. Este documento exige um olhar individualizado, com metas de curto, médio e longo prazo, planejamento das adaptações (atividades, curriculares e avaliações) e muito mais.

Em suma, estamos avançando, porém lentamente. Temos uma longa jornada pela frente para que a inclusão seja realmente efetiva e de qualidade.

* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica, Pedagoga com Habilitação em Administração Escolar, Especialista em Intervenção ABA no Autismo e Deficiência Intelectual, Professora/Formadora em Educação Inclusiva, além de Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar, clínico, empresarial. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com. Instagram: @neuropsicocristianesaraguci. Facebook: @neuropsicocristianesaraguci. Site: www.cristianesaraguci.com.br