Como os estereótipos atrasam o diagnóstico de transtornos de aprendizagem
Os transtornos de aprendizagem manifestam sintomas como dificuldade para aprender a ler, escrever e entender os conceitos matemáticos. Esses sintomas ficam mais evidentes a partir dos 6 anos de idade, quando a criança inicia o processo de alfabetização. Os anos vão avançando e a criança não consegue acompanhar seus pares, seu rendimento escolar é baixo e podem surgir comportamentos inadequados. Quando não diagnosticados e tratados precocemente, os sintomas tendem a se agravar e acompanhar o indivíduo por toda a vida.
Viemos de uma cultura de exclusão, onde crianças que apresentavam dificuldades de aprendizagem eram separadas das demais e não existiam políticas públicas voltadas para ajudar esses alunos a se desenvolverem. Quem lembra dos alunos nota 10 todos juntos nas salas com a letra "A"? Coitado do aluno que fosse matriculado na sala com a letra "E", já estava praticamente condenado ao fracasso escolar.
A cultura tem um papel importante na sociedade, pois rege o comportamento e os hábitos das pessoas. Por exemplo, a punição física, durante anos ela foi culturalmente naturalizada como uma forma de educar as crianças. Quantas histórias você já deve ter ouvido, inclusive na família, de pessoas que ajoelhavam no milho, apanhavam com fios e chegavam a passar sal em suas feridas? Os professores eram autorizados a bater com a régua, castigar, usar palmatórias. Naquela época esses comportamentos eram vistos como normais, culturalmente enraizados na sociedade.
Eu sei, um verdadeiro absurdo! Mas é o que acontecia com muitas crianças, não só o Brasil, mas no mundo inteiro. Agora, não pense que isso não existe mais. Infelizmente, algumas crianças, ainda sofrem com esse tipo de abuso, mesmo com as leis de proteção às crianças e adolescentes. E aqui entra a questão cultural. Como monitorar todas as famílias? Religiões? Eles foram culturalmente ensinados desta maneira, é o que entendem como verdade.
Naquela época, a mentalidade que regia o comportamento dos pais e educadores era repleta de estereótipos. A visão que tinham sobre as crianças com dificuldades era limitada e era comum ouvir frases como: "Ele é preguiçoso", "Essa menina não tem interesse em aprender", "Ele não tem educação e só quer saber de bagunça", "Esse aí não vai ser nada na vida" e por aí vai.
Visão que tinham? Deixe-me corrigir. Visão que têm! Infelizmente, até hoje, essa é a mentalidade de muitos pais e educadores. Há quem duvide, inclusive, da existência dos transtornos. Lamentável! Tem até quem acredite que são doenças inventadas.
Mas, com base na minha experiência profissional que é totalmente voltada para essas crianças e adolescentes, venho aqui afirmar para vocês que os transtornos existem e são muito reais, causando traumas e consequências gravíssimas na vida de um indivíduo. E essa cultura antiga, que permanece enraizada em nossa sociedade, mantém famílias de olhos vendados e fazendo uso dos estereótipos, dificultando a vida dessas crianças, que acabam não recebendo o apoio necessário. Se acharem que você é "preguiçoso" ninguém fará nada por você, pois preguiça não tem solução. Aliás, alguém saberia me descrever o que é a preguiça?
Se você conhece alguma criança que vive essa realidade, procure saber mais sobre o assunto, converse com ela, tente ouvir o que ela tem a dizer e como se sente em relação a isso. Você irá se surpreender! A melhor forma de ajudá-la é buscando ajuda profissional para uma avaliação diagnóstica.
E meu apelo aqui é para que não julguem o que desconhecem e ofereçam uma oportunidade para essas crianças se desenvolverem integralmente, entendendo suas dores e realidade. Elas precisam de mãos estendidas e não de dedos apontados!
* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica, Pedagoga com Habilitação em Administração Escolar, Especialista em Intervenção ABA no Autismo e Deficiência Intelectual, Professora/Formadora em Educação Inclusiva, além de Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar, clínico, empresarial. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com. Instagram: @neuropsicocristianesaraguci. Facebook: @neuropsicocristianesaraguci. Site: www.cristianesaraguci.com.br
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