Sábado, 23 Nov 2024

Leve em conta as emoções de seu filho (parte 1)

Dra. Regiane Glashan*

Entender que as crianças são seres emocionais e que sentem o mundo de uma maneira peculiar é muito importante para os pais. Mas será que os pais estão preparados para encarar as emoções de seus filhos?

Não estou falando apenas da tristeza por não ter o brinquedo desejado ou da alegria demonstrada por dar um belo mergulho na piscina de bolinhas.

Estou me referindo a pais que são conscientes de suas próprias emoções e como tal estão preparados para lidar e orientar os filhos quanto as emoções e sentimentos.

Tenho observado em meus atendimentos com famílias, que crianças que têm preparo emocional são física e emocionalmente mais saudáveis e exibem bom desempenho escolar e social. São crianças mais abertas ao novo, mais dispostas a fazer amigos e raramente os pais são chamados na escola por mau comportamento.

Quanto mais estudo sobre a relação: emoções e família, mais evidências encontro sobre expressão emocional, saúde mental e flexibilidade de pensamento.

Não estou afirmando que as crianças preparadas emocionalmente por seus pais não têm momentos de chatice e "birra". Afinal, nós estamos falando de crianças e não de "entidades" que beiram a perfeição.

As crianças emocionalmente preparadas também vivenciam momentos de tristeza, irritabilidade, medo, como outras crianças, principalmente em situações difíceis; mas apresentam a capacidade de retomar a esperança de maneira mais rápida. Elas conseguem se acalmar, reduzir a ansiedade e buscar novas saídas de maneira mais eficaz que as crianças sem preparo emocional. Segundo um pesquisador americano da área de família - Daniel Goleman, essas crianças seriam mais resilientes e felizes.

Conclusão inicial, para ser feliz não temos que ter coisas e sim saber como lidar com as coisas!

O Dr. Goleman observou em seus estudos com família, que as crianças preparadas emocionalmente eram mais protegidas contra os efeitos deletérios de uma crise conjugal de seus pais. Se pensarmos por esse ângulo e mediante as relações líquidas que temos observado nos últimos tempos, as separações ou os divórcios não são exceções e as crianças estão no meio dessa conflitiva.

As crianças que estão vivenciando processos de separação, podem exibir mau comportamento na escola, fracasso escolar, rejeição dos colegas da escola, depressão, doenças psicossomáticas e até mesmo comportamentos antissociais. Não estou afirmando que esses sintomas só aparecem em crianças cujos pais estão se separando, tanto é que podemos observar alteração comportamental e doenças psicossomáticas em crianças onde a separação dos pais não está ocorrendo. Porém, os lares dessas crianças de alguma forma não estão sendo geridos com competência e assertividade. Algo está fora do eixo.

Os filhos que assistem seus pais brigando com frequência, onde a violência corre solta (física e/ou emocional), apresentam maior dificuldade em fazer amizade, são mais tímidas e introvertidas, são menos expressivas e espontâneas.

Por outro lado, quando os pais são verdadeiros treinadores de emoções, situações conflitivas podem ocorrer (desavenças, separações temporárias, divórcio) que mesmo em momentos difíceis, as crianças são mais resilientes e estão mais protegidas dos efeitos deletérios de um rompimento do casal. Novamente, quero deixar claro que não são crianças imunes ao sofrimento, mas são mais competentes emocionalmente do que as crianças que não têm pais emocionalmente treinadores.

Os pais treinadores emocionais oferecem aos seus filhos a primeira defesa contra o trauma emocional do divórcio, perdas outras e as angústias específicas de cada faixa etária.

O pai que leva em conta as emoções de seu filho e tenta ajudá-lo a resolver os problemas (e não resolver por ele), os filhos respondem melhor as atividades escolares e nas relações interpessoais. De maneira mais simples e direta podemos inferir que estamos ajudando nossos filhos a potencializar as múltiplas inteligências. Em contrapartida, os pais que relegam as emoções de seus filhos ao segundo plano, que são muito críticos, rudes e exigentes, podem prejudicá-los.

As crianças podem se tornar mais briguentas no ambiente social e acadêmico, apresentarem dificuldade em manter boas amizades e são pouco colaborativas nas relações interpessoais.

Outra vez, não quero passar a ideia que é melhor ter um pai qualquer do que nenhum. Um pai emocionalmente presente e atento é benéfico para seu filho, porém, um pai frio, rude e cruel pode ser extremamente deletério na vida da criança.

Conclusão, pais treinadores de emoções podem ajudar seus filhos a tornarem-se adultos saudáveis emocionalmente e com maiores chances de obterem sucesso na vida (serem mais felizes, ganharem mais dinheiro, encontrar boas parcerias e se relacionarem com mais assertividade com as outras pessoas).

Caro leitor a semana que vem daremos prosseguimento a esse assunto tão importante para nós, pais!

* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br

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