Pais querem mudar. Começar por onde?
Dra. Regiane Glashan*
Tenho percebido que pais querem mudar a forma de educar seus filhos, mas muitos não sabem por onde começar.
Para muitos a meritocracia é a saída, para outros a disciplina positiva e a comunicação não violenta é a alternativa certeira. Noto a intensa mudança no comportamento dos pais da atualidade em relação a algumas poucas décadas atrás. Os pais estão muito menos conformistas em relação a criação e educação de seus filhos; estão mais "antenados" as informações, e, mais do que nunca, querem o melhor, em termos emocionais, para seus filhos. Não questiono os outros desejos, pois, crianças com saúde mental e física, são crianças que brincam, exploram o ambiente, se abastecem da amorosidade dos pais e assim vão seguindo em frente.
Se pensarmos que na época de nossos pais e avós era um absurdo um filho questionar ou "responder" aos pais. Isso mudou - e mudou até demais. Hoje temos uma avalanche de crianças respondonas, sem limite e com poder de comando maior que seus próprios pais. Não é à toa que alguns pais se sentem confusos: voltar aos bons e velhos tempos ou seguir em frente pautados numa proposta mais amorosa e responsável de criação dos filhos?
Ao mesmo tempo em que estamos refletindo sobre a educação das crianças, percebemos que elas ganharam muito espaço dentro das famílias. Todavia, se tornaram menos motivadas, mais acomodadas e solitárias (talvez). Nos tempos nem tão distantes assim, a TV era ligada na sala e somente a noite quando a família estava reunida. Não existia vídeo game e celular, e, tablets era surreal. Os pais tinham mais tempo com as crianças. O "time is Money" não era tão reforçado!
Não temos mais, ou pelo menos isso está ficando cada dia mais raro, a presença de adultos cordatos. As pessoas são mais questionadoras, reivindicam mais seus direitos dentro e fora do lar e isso é muito bom. Por outro lado, a não hierarquização das relações deixou as famílias um pouco confusas - pais insistem em ser puramente amigos de seus filhos, esquecendo que eles são, acima de tudo, a referência para eles.
Os pais são os norteadores do respeito, do exemplo da colaboração inter e intrafamiliar e social, do desenvolvimento da responsabilidade e da formação dos filhos no que diz respeito ao desenvolvimento de habilidades para a vida. Muitos pais têm a crença distorcida de que para serem bons, eles precisam proteger seus filhos de problemas, desafios e decepções - os superprotegendo - impedindo que as crianças enfrentem os altos e baixos, as frustrações e a capacidade de levantar a cabeça e seguir em frente.
As crianças não conseguem desenvolver responsabilidade quando o ambiente é muito rígido. Todavia, elas também não estão abertas para a conquista de novas habilidades quando os pais são permissivos em demasia. Cadê o velho e bom meio termo? Será que existe? Acredito que métodos positivos e não violentos de educação são uma ótima saída.
As crianças estão mais dispostas a modelar habilidades para a vida, quando o ambiente em que elas vivem é gentil, firme e com boas doses de dignidade e respeito. E aqui vale introduzir a noção de punição. Falar em punição, percebo que ainda é um tabu. Muitos pais comentam que não batem em seus filhos, mas que aceitam um beliscão, um pequenino safanão ou "gritos amorosos" de repreensão.
Gostaria de reforçar que eliminar a punição (física e psicológica) não significa permitir que a criança faça o que quer e que regras e rotinas estão em desuso. Pelo contrário, existem formas mais funcionais e responsáveis de educar nossas crianças. Pense comigo, uma criança que vive sob a ameaça de alguma forma de punição, pode desenvolver a crença de que ela não é amada, a não ser que ela abaixe sua cabeça ou esteja sempre chamando a atenção para ela. Outras crianças podem desenvolver a crença de que elas nem devem tentar fazer ou recomeçar algo, porque elas não fazem nada direito e que são motivo de vergonha para seus entes queridos.
Segundo a disciplina positiva, as crianças para desenvolverem seu potencial energético e habilidades para a vida, precisam de certas habilidades e pensamentos significativos e entre eles podemos citar: "Eu sou capaz"; "Eu contribuo de maneira significativa e sou genuinamente necessário"; "Eu posso influenciar as coisas que acontecem comigo"; "Eu posso tentar manejar minhas emoções"; "Não vou tomar essa atitude, pois não está em conformidade com meus valores familiares"; etc.
As crianças acabam por desenvolver essas habilidades quando o ambiente lhes é favorável e os pais trabalham para isso, lado a lado, com seus filhos. Pense, a maioria dos problemas de comportamento das crianças poderiam ser resolvidos ou atenuados com o desenvolvimento dessas habilidades.
Como fazer isso?
Vamos pensar juntos daqui pra frente, em nossos encontros "literários"!
* Terapeuta Familiar - Casal - Individual, ênfase na relação mãe-bebê. Especialista-Mestre-Doutora-Pós-Doutora pela UNIFESP, Fellow Universidade Pittsburgh - USA. Site: www.terapeutadebebes.com.br. Instagram: @terapeutadebebes_familia
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