A importância da intervenção precoce no Autismo

Cristiane Fernandes Esteves Saraguci*

Existe uma dúvida bastante recorrente que nós terapeutas ouvimos dos pais de crianças autistas referente a necessidade de tantas terapias quando a criança ainda é tão pequena.

Hoje vou esclarecer essa dúvida que pode ser a sua também.

As crianças que estão sob investigação para autismo, mesmo antes do diagnóstico ser fechado, elas já são encaminhadas para realizar as terapias, que geralmente são em ABA (Applied Behavior Analysis). Eu acompanhei crianças a partir dos 02 (dois) anos de idade em terapia, aliás é muito mais comum atualmente encontrar crianças nessa faixa etária sendo acompanhadas por equipe multidisciplinar e isso é ótimo, já é um avanço. Porém deixo claro que ainda temos uma longa jornada pela frente para oferecer atendimentos realmente de qualidade para essas crianças.

O motivo dessa minha colocação é que encaramos um grande desafio hoje em dia, formar profissionais capacitados nessa área, pois os que temos formados atualmente não conseguem suprir toda a demanda da sociedade. As clínicas estão lotadas e boa parte delas com fila de espera, principalmente para algumas especialidades, como fonoaudiologia ABA e Terapia Ocupacional ABA. Entenda, não basta ser fonoaudiólogo ou terapeuta ocupacional, é necessária uma formação específica para trabalhar com este público.

Enfim, vamos voltar ao tema que é a importância das intervenções precoces. Quando falamos em desenvolvimento infantil temos alguns marcos do desenvolvimento que precisamos acompanhar. Todos nós temos um tempo para começar a falar, andar, desenhar e assim por diante. Nos indivíduos com TEA (Transtorno do Espectro Autista) alguns desses marcos podem ser comprometidos, como a fala e a comunicação, por exemplo. Essa criança que já começa a apresentar atrasos perceptíveis em seu desenvolvimento por volta de 1 ano e meio a 2 anos de idade, se não for acompanhada por especialistas e começar a receber um tratamento adequado, começará a acumular atrasos cada vez maiores em seu desenvolvimento.

A intervenção precoce, portanto, tem como objetivo reduzir esses atrasos, aproveitando as janelas de aprendizagem e plasticidade cerebral dessas crianças, estimulando as áreas que estão comprometidas para que ela consiga avançar em seus aprendizados e consiga chegar o mais próximo possível do desenvolvimento das crianças neurotípicas.

Todos nós, especialistas na área, sabemos dos grandes desafios que as famílias enfrentam, primeiro para conseguir o tratamento e depois para levar a criança para realizar as terapias, pois isso exige disponibilidade de tempo e dinheiro. A realidade é que a maioria dos pais se desdobra para pagar um convênio médico, uma vez que realizar as terapias e pagar particular é para uma minoria, pois o custo é bem alto, até mesmo para quem tem uma situação financeira um pouco mais confortável.

Mas mesmo com todos esses desafios eu garanto para vocês que vale a pena cada esforço para ajudar essas crianças a terem um prognóstico melhor no futuro. Não existe milagre quando falamos em terapia, é preciso constância e paciência, pois mesmo com todos esses estímulos os avanços podem levar mais tempo do que gostaríamos, mas o importante é não desistir. Essas crianças precisam ser estimuladas, as famílias serem orientadas e acompanhadas, os educadores serem capacitados, porém tudo isso só será possível com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar especializada.

* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica e Institucional, Pedagoga especialista em Administração Escolar, Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar e clínico, como também no mundo business como Coach, palestrante e desenvolvendo pessoas. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com; Instagram: @neuropsicocristianesaraguci; Facebook: @conexãodoaprender e Blog: https://conexaodoaprender.home.blog/