Foi fogo na fábrica de fantasias

"Piove, piove - fá tempo que piove qui, ni mim".

Será que é assim que diz a canção? Um misto da Língua Portuguesa com a Língua Italiana, brincando com os dizeres de um personagem cômico que acrescenta dizeres novos no canto: "e io, sempre io, debaixo de questa janela, ridere, ridere, ridere di questa infelicitá". Acho que é assim que diz o canto que ele canta.

Ridere, ridere, ridere, ou risos, risos, risos, se preferirem.

Pois é, agora, neste exato momento, quem canta sou eu: "piove, piove e piove".

E piove bastante. Vai ver que a chuva é para dar um refresco no calorão que come forte lá fora.

Ou, quem sabe, para elevar o nível da água da minha piscina. Esnobei nessa hein?

" Piscina "

Piscina em casa é coisa para bacana. Eu também sou bacana, meu. Tão bacana que não conto nada disso para ninguém. Nem para o Imposto de Renda.

Minha renda é de filó, um fio de linha tão frágil que quebra na hora. Tudo com salário de aposentado, mano. Você já viu aposentado estar na boa?

Mas, enfim, vai fazer o que, né? Justo agora que o Trump e o Putin estão negociando pra ver se põem um final na guerra da Ucrânia.

Confesso que nunca estive na Ucrânia e não sei o que é que a Ucrânia tem com isso. Deve estar em guerra. Guerra interna. Partido contra partido local, gente a favor e gente contra. E, como sempre, o povo paga o pato.

" Bombas! "

Bomba pra cá, tiro pra lá, quem é a favor, quem é contra, - o pau comendo, - o povo sofrendo.

Os "bons de boca" ficam batendo boca e danem-se todos. O povo é quem paga sempre. O povo de lá, o povo de cá - o povo de tudo quanto é canto é que sofre sempre.

O povo paga até quando o incêndio toma conta de uma fábrica de fantasias. Já pensou?

Agora pegou fogo até em fantasia que ainda estava sendo feita. Não esperam nem a fantasia tomar jeito, ficar no ponto, ficar bonita, o fogo vem e come até o sonho. Imagine, pois era o que faltava, incêndio em fábrica de fantasias.

Tão queimando até as nossas fantasias, mano.

Queimam as fantasias, queimam os sonhos e devolvem todo esse sofrimento que toma conta da vida do povo. Ué! O povo manda alguma coisa em alguma coisa? Povo?

" Vote aí "

O povo só serve na hora de votar. Votar e escolher os mais espertos. Os mais faladores, os mais tapeadores, os mais enganadores.

Palmas para o povo, que também merece.

Merece sim, merece aprender o que deveria já ter aprendido. Merece conhecer melhor aqueles que são ou serão eleitos para qualquer coisa que possa mexer ou mudar com o país.

Droga, o povo só acredita no Papai Noel e em suas renas que puxam o tal do trenó. E é aí que já começa o nó. Sim, o nó começa no trenó e chega até na cabeça da gente, que tem o trenó na cabeça

" Não é, Noel? "

Tem gente que pensa que o Papai Noel mora em Brasília. Ou em São Paulo. Quem sabe no Rio de Janeiro.

De onde vem o trenó? De onde vem o presente que os trenós não trazem?

Quem paga a conta?

Claro que é você, mano. Claro que sou eu. Claro que é o povão.

O povão paga e não bufa, como dizem os mais espertos. O povão é bobão e paga todas as contas para os espertos fazerem e desfazerem o que querem.

Avião pra cá, avião pra lá, festa daqui - festa dali - a festa é geral, só não tem festa para os pobres pagadores das festas. É isso aí, mano. Diz aí. É ou, não é?

" Volto "

Nisso tudo, volto ao começo e falo do incêndio em uma fábrica de fantasias. Coisa triste, até as fantasias estão queimando. Bem que fogo poderia ser mais lá pra cima, mais no meio-no-meio do Brasil, ali por volta de Brasília, quem sabe?

Imaginem os caras pálidas queimando e correndo do fogo! Tá louco, sô, bobagem ficar falando ou escrevendo coisas assim. O Brasil não merece, se bem que muita gente ficaria até mais simpática com uma leve esquentada. Esquece. Besteira ficar falando essas bobagens, né?

Na verdade, transformando tudo em poesia, talvez um bom poeta até diria que as coisas estão tão ruins que até as nossas fantasias estão pegando fogo.

Dá dó, não dá?

Não se queima tantas fantasias assim.

Já chegam as fantasias do povo que os ditos políticos queimam todos os dias, todas as horas, todos os nossos sonhos.

Pobre país. Faltava essa, queimar a fábrica das nossas fantasias.