Ora, que diabos!
"A gente corre, a gente corre, na BR-3. A gente morre, a gente morre, na BR-3". E por aí vai a canção, cantando dores, cantando amores, cantando a vida, cantando a sorte e até cantando a morte.
E não é bem isso o que acontece com a vida da gente?
De repente, bem crianças, ainda sem lembranças, a gente vem ao mundo sem saber o que o mundo vai dar ou tirar da gente. E aí, a partir daí, a vida inteira a gente corre, e a gente corre, a gente corre e a gente morre na BR-3.
Para falar a verdade, nem sei onde fica a tal de BR-3. Parece que fica no Estado do Rio de Janeiro. Já devo ter passado por ela, sei lá quantas vezes, na minha vida. Ia de férias lá pelas praias cariocas. Ainda bem que passei, também fui, e voltei na BR-3.
Tudo na BR-3.
Engraçado que, num momento como este, a tal da BR-3, como tantas BRs, estradas, entradas, vias, ruas e rodovias representam, mais ou menos, a vida da gente.
" É a vida "
Sim, a vida é uma BR-3. Quantos acidentes eu já soube, já vi ou ouvi falar, mesmo que de longe, na BR-3. Acidentes fatais ou pequenos acidentes, uma batida, uma trombada com o veículo, um pneu estourado, o carro caindo para um lado ou para o outro, o desconforto de quem estava junto, o susto, o medo.
Tudo nas BR-3. Ou 4. Ou que números tenham.
Pense bem. Não é que a vida é assim mesmo? No conforto que a gente está, repentinamente é jogado para o lado. E a gente bate, a gente apanha, a gente morre na BR-3, como dizem os versos da canção. "A gente corre, a gente corre, na BR-3. A gente morre, a gente morre, na BR3". Não é assim?
Diabo de vida é essa nossa.
" Na leitura "
Li, por alto, quase que de passagem em um jornal da semana, que um funcionário, no caso um Guarda-Civil, em reunião com outros guardas municipais no gabinete da Secretaria de Segurança Pública, acabou matando a tiros o Secretário Adjunto de Segurança da Prefeitura de Osasco. Dito cidadão, o tal guarda, teria ficado descontente porque iria passar por uma troca de funções, as suas funções, claro, no novo governo da cidade. E foi aí que se deu o "bambambã", tiros pra todo lado.
Ora essa, todo mundo tem o direito de ficar bravo e reclamar sobre qualquer coisa que o desagrade. A vida é assim mesmo, cada um é cada um e cada um reage à sua maneira. Maneira que dificilmente combina com a maneira do outro, o que faz com que o mundo seja esse descontentamento total, na medida em que cada qual é um cada qual.
E, claro, cada qual reage à maneira de cada qual.
O tal conceito do - "não gostou, devolve" - pode valer para uma porção de coisas na vida, só não vale para a própria vida. Imagine você olhar para os céus, apontar para Deus e dizer: "Não gostei. Pode pegar minha vida de volta!" - Claro que os anjos lá do céu iriam morrer de rir.
" E não é? "
Mas a gente é assim mesmo. Eu gosto do que eu gosto e muitas vezes não gosto das coisas que o amigo leitor gosta. Da mesma forma que o amigo leitor não gosta das coisas que eu possa gostar e nessa "desgostação" (desculpem, tive que inventar o "desgostação" por saber que, tanto quanto o amável leitor, a gente gosta e desgosta). E nos dias de hoje, a tal da "desgostação" é geral, não sei se o leitor concorda
Sim, é verdade que a gente não gosta do governo. Sim, a gente não gosta do padrão de jogo que o time da gente joga e a gente não gosta quando alguém nos ultrapassa nas ruas ou nas estradas. Da mesma forma que a gente não gosta de café frio e tantos outros desgostos incomodam na vida da gente, coisas que até então a chamada "doce vida" nos dava. Mas, puxa vida, sair por aí dando tiros, matando, xingando, negando e renegando vai muito além da conta e do contado.
" O "bicho" homem "
Eu não gostava quando alguém dizia antigamente - da mesma forma que os alguéns continuam dizendo - que o homem é o mais terrível dos animais que Deus colocou na terra. No entanto, vira e mexe leio e vejo aqui e ali, nos jornais e nas emissoras de rádio e televisão, nos filmes, nas notícias, no inferno sideral que a gente vive, coisas do tipo: "fulano matou cicrano a tiros", - ou "a tapas" - ou "a facadas". Os danados dos fulanos matam até de susto neste incrível mundo de Deus.
O tal crime ocorrido em Osasco - que os jornais e emissoras mostraram - é mais ou menos um exemplo disso: uma pessoa matou outra porque estava descontente pelo fato dessa outra pessoa ter trocado o cargo ou a função que ele, o descontente, exercia numa tal empresa ou no funcionalismo público.
Só posso me condoer - e muito - ao lembrar que o ser humano é extremamente desumano.
O dito cujo matador desta história mereceria um grande bom isolamento lunático. Melhor ainda, um isolamento infernal, tendo todos os diabos como bons companheiros.
É infernal, não?
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