É sério mesmo!
E aí? Tudo bem? Não sei se você ainda se lembra de mim
Tá lembrado?
Eu me lembro. Mais ou menos, mas eu me lembro.
Sou péssimo nesse negócio de lembranças, do tipo - "quem é quem?" - "de onde quem vem?" - "pra onde quem vai" - "e se é que vai" - E, se for, o que é que alguém vai fazer lá nesse onde?
Complicado, não? Complicadíssimo. Sei lá!!! Tem tanta coisa a ser feita, tanto por aí, como por aqui, que parece até o Brasil, que nunca se sabe se sim ou se não, quem sabe até talvez.
Já reparou nisso? Na verdade, e a bem da verdade, eu falo do Brasil que, segundo juram e garantem, ousam dizer que foi descoberto por Cabral. Perdão, os fanáticos garantem que terá sido descoberto pelo Lula.
Pode até ser. O Lula costuma falar por aí que já fez tanta coisa fazendo com que a gente chegue até a pensar que foi ele, ele mesmo, o Lula quem descobriu o Brasil. No máximo, o Cabral, aquele português - "que saiu ao mundo" - como querem os lusitanos, teria sido mero assistente dele. Quem sabe até da casa real. Real, realmente, e bem real mesmo. Com o Lula tudo é possível.
Dito isso tudo, parece claro, pelo menos para mim, que se esteja falando do Brasil do Lula, não o Brasil da gente. Sim, porque, nos hoje-em-dia, parece clara e lógica a existência de dois Brasis: o Brasil do Lula e o Brasil do resto.
O Brasil do Lula vai sempre numa boa. Imagine só um metaleiro, ou metalúrgico, como queiram, que nunca chegou a ser tão trabalhador, tão combatente, tão atuante, tomando conta de - "um país que chega até a ser maior que tão enorme" - como diria o próprio, e eu falo do Lula - aquele ser que já foi.
" Já foi "
Quando eu digo "ser que já foi" quero dizer, claro, que falo no sentido de alguém "já ido", bem do jeito que a gente diz quando encontra com um amigo, eu digo daqueles bem antigos, que eram amigos - no tempo que a gente era criança - e então se pergunta: "e o Zé?" - Com toda a tristeza nos olhos o amigo que a gente encontrou responde: "O Zé já foi".
Tantos Zés já se foram que a gente chega até a se sentir e se achar sozinho.
"Os Zés com quem a gente jogava bola naquele tempo"
Por falta de Zés, até a "turcida du Curintia" tá ficando bem menor Já reparou nisso?
Mas, deixando o Zé de lado e retomando o papo, o "cumpanhero" Lula foi o metalúrgico que nunca teve onde guardar suas coisas nos lugares onde ele ia trabalhar.
Para falar a verdade, eu nem lembro onde é que o Lula trabalhava. Essa pergunta cabe até para mim mesmo: "o Lula chegou a trabalhar em algum lugar? Vai ver que nem ele sabe. Vai ver que nem ele lembra. Trabalhar? Trabalhar como? "Eu sou metalúrgico, mano. Metalúrgico é metalúrgico, tá sabendo?".
Pois é, o Lula, segundo diz e dizem alguns, era metalúrgico. O metalúrgico que trabalhava em fazer a cabeça dos outros. "Vota em nóis, mano!", sempre foi o seu grito de guerra.
" Gritaí, mano "
De grito em grito, de greve em greve, o Lula chegou lá. Sendo que as greves nem eram dele, eram de pedreiros, carpinteiros, profissionais da louça, dos alfaiates, tintureiros, tocadores de ônibus e bondes.
Lembra quando São Paulo era coberta por bondes? Bondes abertos e bondes fechados. Nos bondes abertos a gente se pendurava nos estribos e vamos nós!
Quando o cobrador vinha a gente se mandava pro outro lado do bonde por onde o cobrador já tinha passado. E assim passaram os dias, como diz a canção. Numa dessas o Lula chegou e "bimba!". Olha lá o Lula de novo. Taí até hoje. Cê gosta? Então vota.
" Em frente "
E, no entanto, ainda bem, com Lula ou sem Lula a vida segue em frente. Tem jogo do Curintia, tem jogo do bicho em algumas sendas por aí, sendo que o jogo do bicho que eu falo aqui não é aquele jogo do bicho que vem enchendo a paciência da gente e a gente dá uma corrida dele e, se for o caso, joga ele pro mato. Não, o jogo do bicho que eu falo aqui é o jogo do bicho que jogam nos lugares onde tem jogo de bicho.
Também não se pode falar muito porque o jogo do bicho ainda é proibido por aqui. Por aqui e por ali. É proibido, mas a gente joga. Eu não jogo porque não sei jogar.
Uma vez eu tentei entrar no time e depois de muito custo, resolveram me colocar na ponta-esquerda. A ponta-esquerda é o lugar mais ingrato que um jogador pode ter.
" Dos craques "
São onze craques, não são? O locutor fala o nome do primeiro, que é o goleiro, dos beques, que são os beques, claro, dos caras de meio de campo, dos meias, dos pontas e do centroavante. Reparou que o nome do ponta esquerda é o último a aparecer? Isso quando aparece. Eu, repetindo, como não sabia jogar e não sei até hoje, não fico nem na plateia. Dizem que eu sou azarado. Acabo vendo pela televisão. Isso, quando a televisão passa.
E ultimamente os jogos são tão mal jogados que eu acabo dormindo num sono só. Depois fico esperando o Jornal Nacional para ver quem ganhou ou quem perdeu quando o Jornal Nacional apresenta.
Exatamente por isso eu vou me preparando para tirar o time de campo e prometer me calar por pelo menos mais uma semana. Talvez até lá eu encontre coisa melhor para falar. Talvez o Lula peça licença para ir ao banheiro, talvez o segundo dele também esteja com problemas estomacais, talvez alguma coisa séria ainda nem aconteça e assim, sem coisas mais ou menos sérias diante da falta de seriedade brasileira, que não é nada séria, talvez eu volte na próxima semana.
Acredite, é sério mesmo
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